domingo, 27 de março de 2011

  Amadureceu rápido demais. De certo modo nunca foi criança, embora tenha crescido em um ambiente propicio a doçura e a meiguice, sempre viu tudo de um jeito diferente. Seu olhar era aguçado, intrigante, moralista, carinhoso e perturbador. Sem saber o porque, ela via em todas as pessoas seus medos e mistérios mais ocultos. Suas vergonhas e mentiras mais obscenas. Mas mesmo sem entender se conformava, porque também via os escombros onde cada personalidade havia sido construída.
   Com o tempo suas percepções deixaram de distraí-la e passaram a confundi-la. Abrigando o medo em sua alma e fazendo com que ela se sentisse fraca. E jamais ela, principalmente, e, justamente, ela, iria aceitar a fraqueza. Entretanto percebeu que era a mais covarde entre todos que possuem vida. Então reagiu da única maneira que lhe parecia cabível e real. Tornou-se puta. Pois sempre acreditou que elas eram os seres mais fortes do universo

   Em poucos dias se esqueceu de quem realmente era e passou a ser a mais vulgar entre todas elas.
   Passaram-se anos sem que ela soubesse o porque de estar naquele lugar, ou como aprendeu a sorrir tão bem e mostrar-se tão pura, em meio toda aquela imundice.
   E mais dias se passavam, mais sujeira ela absorvia, mais bocas, mais sexos devassados, mais aguardente barata, mais miragens etílicas, mais dinheiro de medíocres, mais risos idiotas e pervertidos, mais putas.
   E novamente sem entender, absorveu com tamanha facilidade e rapidez sua lucidez, lembrando-se de quem é, de quem foi, e de quem fingia ser. A partir daquele dia quando foi tomada por um súbito colapso de razão, começou a a sorrir mecânicamente, ao mesmo tempo em que manchava sua alma com imensas e negras lágrimas de rímel.
 

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